Prosa de vó do sertão (sem final feliz)
José num quis ir a luta como seu tio fez, via o dia sair de trás da serra e cortá o azulão por meses até que esses meses virassem muitos anos. Não trabalhava como homem muito menos como o jumento do Seu Malaquias. Esse sim, pobre animal que num poderia de saber que merecia mais agrado que aquele pobre diabo.
José acabou tomando conta do cemitério da cidade, quer dizer, cidade é elogio por demais pra aquela rua que cortava o mato ralo daquelas bandas. – Ô vó, mas conta do jumento. Quem era Seu Malaquias?
Sim, claro, Seu Malaquias já quis cortejá sua velha avó. Sujeitinho folgado aquele, cheio das avareza na alma, mas era afogueado que só. Bem, o fogo do homem não é procês. O jumento dele era talvez o que mais trabalhava em toda a cidade, carregava pedra, grão, e dizem, até um safado que Seu Malaquias teria dado cabo.- Oh! Verdade, vó?
E eu sei? Sabem como é, não? Mas como eu ia dizendo, o jumento merecia era agrado, e num deram agrado pra ele, morreu com as tripas na estrada depois de ter passado um daqueles caminhão, já viram um?- Não senhora.
Mas o bicho é bonito, tem quatro rodas e faz um barulhão pra modo de chamá a cidade toda pra bem perto. Vem vendendo gás, as vezes vende coisas da cidade lá de longe, mas quando vem com coisa cara, num faz boa venda. Numa dessas vez é que seu tio foi embora com ele, pra cidade lá de longe, disse que ia voltá bem na vida, mas não voltô. – E lá na cidade, vó? O tio tá rico?
Fosse esse o destino de toda essa gente que sai daqui, eu já tinha mandado ocês pra lá, mas não. Num carece de cruzar esse chão todo pra trabalhá que nem o jumento de Seu Malaquias, morrê de fome e acabá morto na estrada, que nem seu tio. Aqui tem o José pelo menos pra cuidá de ocês no cemitério.