Nos olhos deles
Adiantava apenas por um ou dois meses o isolamento a que se prestavam, por que sem querer vê-la ou sem querer vê-lo, se viam. Sem quere pensar, pensávam-se juntos, quase juntos, em um meio termo, um espaço vago que nunca se preenchia.
Um dia se viam em sonho e nem sabiam que sonhavam juntos, e por poucos dias encontravam-se de fato, e esses encontros eram sempre acompanhados por um aroma de despedida. Havia sempre um abraço saudoso mesmo na chegada; aliás, todos os abraços assim o eram. Tinha, entre o olhar compartilhado, um consolo mútuo que fazia-os cúmplices sem que tivessem consciência disso, e a cumplicidade os incomodava.
A ela restava o que podia ser dado, e seu sentimento se satisfazia, mas isso não bastava para a cabeça, de certo. Qualquer cabeça, razão pensaria ser ultrajante, mas o consolo nos olhos, nas mãos e no corpo era alívio para os dias sofridos e monótonos.
A ele faltava coragem, calma, vontade de não enxergar e viver só o consolo. Era a vida que se mostrava por ela e isso o cegava.
Não querendo então essa visão, esse meio, mantinham-se apenas no consolo esporádico e periódico do não-comprometimento.
Talvez o que exista seja a vontade da presença do outro, sem qualquer função para ela. Estar lá e ponto final. Um para o outro, mas quem pode ter certeza?
Vê nos olhos dela, até quem não queira, a ansiedade da juventude, pelo amor.
Vê, por sua vez nos olhos dele, quem quiser, o amor pela ansiedade da juventude.
Vá entender!
2 Comments:
bonito texto, mais uma vez.
parabéns.
beijo!
Obrigada!
o que achou da template nova?
beijos
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