05 dezembro, 2004

Janela de hospital (e outras também)

Não deixam de cair as lágrimas do rosto na janela. Não deixam de traçar caminhos no hálito condensado na janela, e assim até embaixo se entortam. Um zigue-zague parado no tempo do rosto na janela. O frio é certo e parece durar mais do que gostaria, e assim a janela fica, sempre um amparo para lágrimas de mais um rosto a aguardar. Aguardar o início, o fim ou a continuação de uma ou mais vidas. E quando se fizer quente o tempo, ainda sim, timidamente, poderão traçar mais uma vez as lágrimas, seus tortuosos caminhos. E uma testa pode vir a apoiar-se, quem sabe? Ou mãos poderão repousar de uma súplica, em sua superfície constante e lisa, que fria absorve o calor das emoções. Um figurante invisível e tão necessário por isso. Pode ser, na dor, o fio para a lucidez, por mostrar através de si, veracidade. E pode ser o primeiro meio, onde visualmente se transmite para o mundo, o extravasar do contentamento. E para os que se habituam, simplesmente permite algum deslumbrar imaginário ou real (que seja!) de anseios comedidamente não revelados. Ali ficarão por tempos a transpassar realidades.