04 dezembro, 2004

A modelo

Me torça e ajeite a onda do cabelo.
Não há de preocupar-se em me forçar;
Então me olha e calcula o que despir.
Com que razão? Trato de ficar crua,
Nua como superfície do mármore.

Mão para trás e pescoço tombado
Me posiciona como noutro dia.
Expôs um seio e ocultou o outro,
Outra mão sobre ele. Agora sofra!
A expressão de desamparo e dor.

E a pedra também passa a sofrer
Ainda brutalmente trabalhada.
A mão não quer mais ocultar o seio,
Nem a nuca se manter intocada.
Sofra! Reata o seio à mão dormente.

Agora lisa, minha forma branca
Sofre para qualquer observador .
Quem torceu ao menos me pagou bem.
E ainda pude sentir como tocou
O mármore onde me aprisionou.