16 março, 2005

Gerações

Ela vivia feliz com ele, numa casa triste de um cinza insosso e de um piso cru. E por mais que suas amigas lhe dissessem que não era grande coisa ser mulher de um homem, e não mulher de sua própria vida, assim vivia ela satisfeita. Era viver a vida de outro,carregar seu peso para aliviar a dor, olhar seu rosto cansado e poder contar com o apoiode seu peito ao dormir. Vivia pois feliz e desta mesma maneira sua vida terminou.
A filha dela também vivia feliz com seu marido, mas não aguentava o cinza nem o cru. Discutia sempre com suas amigas sobre os defeitos de seus esposos, mas enaltecendo o quanto era bom o sustento garantido de um lar e o amor que aflorava sazonalmente daquele cotidiano. Sentia-se não menos amada, mas menos dependente pois agora havia a conta conjunta. Sua vida ainda não terminara quando decidiu que o casamento sim, mas não enxergando futuro sem o amparo do marido, casada permaneceu.
A neta dela vivia feliz com seus namorados e também viveu feliz com seu ex-marido. Nem chegou a querer filhos e não os teve. Passou a gostar do cru para ambientes rústicos e o cinza sempre lhe pareceu blazé. Um homem podia ser bela companhia, mas amigos poderiam ser melhores, dependeria da ocasião. Sentia-se mais solitária que as demais, mas diversamente amada quando queria e quando a queriam. Não casou-se novamente, mas ainda mantém contato com seus antigos namorados, marido e casos. É totalmente independente, mas não se apoia em peito algum, nem admira seu cotidiano, pelo contrário, o detesta.