25 março, 2005

Excesso

Tinha pressa, os passos pisando firme, pouca terra no chão muito lixo, obstáculos, rua irregular, os lixos nos espaços entre paralelepípedos - pontas de cigarro do dia inteiro, sujeira não se sabe de onde que forma uma massa estranha mas única e que faz parte do que se pisa. A sola entra em contato com a imundície dos dias infinitos, não acaba nunca. E tudo acumula. O cimento se mistura na parede, não tem uma definiçao nítida, são prédios feios, um do lado do outro, mais coisa irregular. A gente passa, passa não vê. Vê, mas não enxerga, não percebe. É assim, tá sempre ali, perceber o quê? A classificaçao das coisas percebíveis determina o que se vê. Ele via, via mas não conseguia captar porque não tinha classificaçao, e o cérebro incomodava com essa falta de categoria, isso que dizem que sem palavras não se pensa. Pensa, mas incomoda. Os lixos nos espaços do cimento incomodavam não o sapato, era uma coisa ou outra que aparecia mais forte e, droga, sem categoria. É uma massa de coisas a se ver tudo junto, todo mundo se mexe junto, eu não sei o que eles fazem. Eu não sei onde ando, eu só tento desviar, tem muita barraca, não quero comprar, quero chocolate, não quero mão no bolso, minhas mãos apenas pendem e esbarram. Ele esbarra, esbarra e anda e tem pressa. E coisas aparecem, brinco, boca, lâmpada, sapato, chão, sujeira, papel.

1 Comments:

Blogger Madame P. Mandrack said...

Bastante conturbado este pensamento, mas a agitação da cena ficou muito clara...(quem sabe também uma agitação pessoal?)
Muito bom, miga.
beijos

7:02 PM, março 26, 2005  

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