27 fevereiro, 2005

Pudera

Por uma noite apenas
Cair em tentação
Sair de casa
Roubar um diamante
Bater a tua porta

E na manhã dessa noite
Apenas rezar
E entrar em casa
Como se o diamante nada fosse
Mas deixá-lo na tua cama

Se por uma vida apenas
Essa tentação me salvasse
E minha casa me aguardasse
Como um diamante
A tua porta seria a minha.

Aí eu seria feliz

24 fevereiro, 2005

Incomoda

Havia uma pedinte no ônibus. Tão repulsiva a sua imagem e voz, tão convidativa a sua vida, como água de poço. Digo água de poço por que desperta curiosidade, pavor e solidão. E se digo que tal qual água de poço aquela sua figura me parecia, é pois por simples eufemismo que minha moral gostaria de empregar.
Algo de altivo parecia evidente, mas não entendo assim aquele olhar; sobretudo por que havia agressividade, revolta e pústulas por todo o corpo. Feridas de uma cor rosa de carne fresca. Os cabelos eram uma coisa disforme com um tom vulgar e opacos. Os olhos vidrados no caminho, tomavam rumo contrário ao da boca que só fazia pedir e lamentar, pedir e lamentar, pedir e lamentar.
Na verdade parecia ordenar alguma reação mesmo que de nojo. Instigar talvez fosse
sua vontade, mas em meio a tantos passageiros distantes e sem vida, fitou-me aguardando uma providência. De repente me juntei à massa disforme de passageiros e não me senti melhor do que os cabelos opacos da pedinte que exibia, agora, as feridas da axila esquerda.
E após isso a pedinte ficou na rua e a massa opaca de passageiros, ofuscada pelas pústulas, continuou. O que teria dito à pedinte? Qual o motivo de seu impacto em meu trajeto? Ainda fica sua imagem em minha cabeça e mesmo se tivesse correspondido a seu olhar e reagido, ainda as feridas me incomodariam.

13 fevereiro, 2005

Que venha a loucura!

Nutro pela sabedoria uma ânsia absurda, um não sei quê mágico. Chego ao cúmulo de querer sorver o conhecimento alheio até a última gota e ainda sentir que não foi o bastante. Por vezes me perguntei se era megalomania, mas que maravilha de paranóia se verdade fosse.
Odin já perdera um olho pelo troféu dessa história, e eu aqui sem perder uma gota de suor, definitivamente a grandiosa eloquência e força divinas não me tocaram. Queria saber a razão desse prazer que sinto ao ter total consciência de que de fato aprendi algo. E novamente quis saber. Seria mera curiosidade? Exibicionismo? Pseudo-intelectualidade como uma amiga qualifica? O tom imperativo deste “verbinho” sacana, para a minha satisfação pessoal, ainda vai me deixar razoavelmente enlouquecida. Que seja uma loucura povoada então pelas figuras que por tanto tempo compuseram a orgia mental de meu estreito conhecimento.

06 fevereiro, 2005

Tua ausência

Quero a certeza,
Senão, como poderia esperar?
Quero a intenção forte
Para permanecer em minha conduta.

A luta para desbravar meu peito,
Esta já foi conquistada por você...
Mas e tua decisão?
Qual perdedor manipula quem o domina?

Sou eu assim fraco,
Dominado pelo medo,
Ansioso pela falta, minha, bem sei
E cheio de esperança em seu antigo sorriso.