30 setembro, 2004

Pipocam

Como pode ser tão fértil a propaganda das Casas Bahia, os móveis, ou melhor, compensados, tão diferentes entre si? Me causam frêmitos. O que me apavora não é a qualidade da indústria moveleira, embora não me agrade. O que me azucrina é aquele garoto propaganda que agora, pasmem, tem uma companheira. E não é passageira como a do dia das mães, parece que vai durar! Realmente me preocupo com isso, me pergunto: Será que vão procriar? Uma família de pentelhos a anunciar: Quer pagar quanto? Eles invadirão a televisão brasileira como coelhos, pipocando por aí, aguardem...

28 setembro, 2004

Algumas mães são breves

Bastou um piscar de olhos. Um movimento ágil de suas pálpebras para que tudo que havia construído viesse a desmoronar. Enfim, a maternidade estava morta. A idéia dela também. Joana, em míseros segundos, começara a sentir falta da dor do parto, de dar o peito, do choro, de tudo. Seu olhos já negros adotaram o breu, o luto pelo berço, pelas madrugadas, pela paternidade de seu futuro companheiro. Sim, a paternidade lhe emocionava, deveras. A devoção de um pai que nunca teve poderia amansar seu coração e trazer a solidez para sua felicidade. Mas para que pensar nisso? Por que sacrificar ainda mais seu corpo com tanta tristeza? Para que lembrar que seu companheiro não queria filhos e que seu pai existia, e fazia-se perceber com tanta maestria, nas marcas do corpo de sua mãe? Chorava Joana por seu útero, pelo sangue que não vira. O leito do hospital não era o da maternidade e os pontos em seu ventre não eram da cesária. O filho que carregava há pouco? Que filho? Há apenas a marca de qualquer cirurgia, que um dia precisara fazer.

27 setembro, 2004

Maria sem vergonha

Fui tomada de tamanho estardalhaço mental neste final de semana. Tudo por que conheci um famigerado “blog”. Queria ficar a margem desse processo , lutei para que não acontecesse, mas fui pega. O que fazer? Um blog, nada mais óbvio. Este que está visitando por sinal.
Sempre escondi minhas incursões no mundo literário, nunca confiei no meu taco e ainda não confio, mas comecei a ficar sem vergonha. Veja só! Logo eu, que não falava disso para ninguém, comecei mostrando as tais criações para a Thainara , essa mesma, aí no “contributors”., depois para mais um amigo e assim foi. De repente resolvi assumir esse meu lado, e hoje posso dizer que estou em via de ser muito bem resolvida... Então por favor, peguem leve nas críticas.
Não me levem a sério.

26 setembro, 2004

Desequilibrei (versão 2.0)

Desequilibrei. Só isso. Quando tentei olhar lá embaixo. E o vento passou rápido demais por mim. E a velocidade me assustou. E nem entendi muito bem o que tinha acontecido. Simplesmente, desequilíbrio.

Talvez, se soubesse, não teria ido lá olhar. Não teria me afastado dos outros. Logo eu, que sempre fiz tudo como mandavam. Se soubesse, não teria subido. Não chegaria perto. Não me inclinaria tanto.

Mas era todo aquele campo, aquela imensidão, aquele todo-dia, e um desse todo-dia parecia igual demais. Nunca, nunca isso me incomodou. Nem naquela hora, mas... Tentei fugir um pouco; acho que tentei ir apenas por ir. Aquele lugar sempre me atraiu, vovó sempre dizia que não devíamos chegar perto, e eu nunca nem pensei em fazer isso. Mas algumas vezes, sem que eu me desse conta, virava e olhava, deixava os animais por alguns segundos de lado. Depois, esquecia e ia embora. E continuava. Sempre, sempre continuava.

E aquele campo, que sempre foi a minha casa... todo aquele verde, debaixo de tanto céu, debaixo de tanto, tanto céu...

Quando olhei...era um abismo, e meus olhos se abriram mais. E o ar parou debaixo do meu nariz, e eu não senti minhas mãos segurando no galho. Depois olhei, estava firme. Não sei, acho que tive medo, tentei voltar, mas continuei ali, continuei olhando. E alguma coisa no sentimento do todo-dia não estava mais lá, e a falta me deixou tonta. Os pés estavam firmes, tenho certeza, por isso não sei; por isso não entendo. Desequilibrei, e foi isso. Tudo lá embaixo, parecia bem perto, embora muito longe.

Eu desequilibrei. Não me senti mais. Nem cheguei a sentir o baque.

Um conto de fadas desconstruído

Um dia quis ser Rapunzel. Deixei cabelo crescer até a lombar, aprendi mil formas de trança, briguei com minha mãe até ficar de castigo. Grande decepção. Que último andar de altíssima torre e príncipe que nada! Moro numa casa de vila e minha janela dá de cara para uma fábrica de anões de jardim.

Tentei imitar o Nelson

Numa madrugada ociosa li o texto de meu professor, “Nelson e as gotas de chuva” e por auto-afirmação quis provar que conseguiria analisar as nuances dos movimentos de uma sonata de Beethoven de acordo com as sensações que viriam ao olhar para as tais gotas de chuva. Me deparei com alguns problemas. O primeiro é que não sei dirigir. O segundo é que não tenho um carro. Pensei: vou de táxi, mas aí “avacalhei” tudo porque lembrei da música da Angélica. Comecei outra vez. Cheguei a brilhante conclusão de que a corrida até a Lagoa ia ser cara, ainda mais quando pensei na volta. Ótimo, pensei novamente, fico em casa observando tudo pela janela, mas a previsão do tempo alegou céu claro e sem nuvens por uma semana. No final de tudo ainda descobri que havia perdido o cd do Beethoven. Resultado: tentei imitar o Nelson para mostrar superioridade não sei para quem, e acabei constatando que por um bom tempo não vou ter tanto dinheiro quanto gostaria, que devido a isso vou continuar andando de ônibus e que vou ter que gastar mais dinheiro comprando outro cd ,debaixo de um sol de quarenta graus,
para a pessoa que o havia emprestado.