04 abril, 2005

O percurso da Fumaça

Por entre fumaças eu vi uma dançarina
Que pousava os braços nas mesas
E erguia o tronco rijo, em convulsões teatrais
Quando fazia aqueles passos entre as fumaças!
Quando franzia aquele rosto e deslizava a coxa
Pela barra da saia, que como um pêndulo pairava...
Fazia-o de plano já traçado aquela dançarina,
E gostava de ver as bocas semi-abertas, os paletós
Tão finos, tão rendidos àquela saia de seda, àquelas pernas moles.
Os caminhos da fumaça, não sei se os eram, ou daquela dançarina,
Desgraçada!
Era sinuoso o cruzar das pernas e dos braços
Que de tal modo mesclavam-se à fumaça,
Subindo ao lustre ocre da sala, descendo a leste pela porta de entrada
E pela escada traçava uma rota de olhares que das mesas seguiam-na.
A fumaça ia deslizando nos ares densos dos quartos
Escolhendo por onde se espalhar,
Como se espalhava!
Fumaça viciada de um ambiente cheio de olhares de mesas e bar
E para o meu olhar não se entregava e minha mesa vazia invejava
Aquele caminho lento e trapaceiro daquela minha dançarina de fumaça