05 janeiro, 2005

E a solidão elevou a areia ao céu

A solidão me agrada tanto quanto uma brisa leve em dia de céu azul. Por vezes a mesma imagem me toma o pensamento: um rochedo imenso e cor de fogo, um céu tão azul e o vento cantando nas areias fugidias da terra. Do alto daquele rochedo eu salto, após ter corrido como se estivesse a preparar uma decolagem. Naquele momento que dura o quanto meu rochedo tiver de altura, sou eu e o atrito do ar que por mim é sensorialmente ignorado. Não há queda e sim, entrega de meu corpo, naquele meio que me revive, à liberdade plena que busco incessantemente.
Outrora escrevi poesia melancólica o suficiente sobre isso, e ainda não sei se abandono a melancolia por completo. O assunto me vem à mente como um rompimento em meu espaço esgotado, o espaço em que vivo, e recorda minha essência livre a qual sufoco diariamente. Trato disso como algo a ser superado, mas tenho visto que o que me é matéria de existência é justamente superar a necessidade de sublimar o que deve ser meu eixo. Então paro madrugadas inteiras a buscar uma maneira de coabitar esses eixos tão diferentes. Talvez escreva mais poesias até descobrir essa tal forma, ou mesmo estabeleça a permanência da entrega de meu corpo ao rochedo, ao ar e à queda. Ser tão fugidia quanto a areia que do vale sobe ao rochedo e desce e paira sem ter amarras em algum tempo ou espaço. Hoje, a idéia de juntar-me ao vento me soa tão cálida quanto a idéia de negá-la, como já ocorrera. Eram tempos tão atrelados ao que nada me era, tudo me escapava e eu me perdia, e era tudo tão concreto. A inconsistência da solidão e a abstração do que me pesa na alma me elevam até onde a areia da terra pode ir no céu.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

OOOIIII!!!!!
seus textos são extremamente expressivos!!!
da pra saber direitinho o q vc esta pensando
se para os outros os olhos são o espelho d`alma, no seu caso seus textos a refletem melhor
muito legal!!!
eu ñ sabia q vc precisava tanto assim de liberdade, mas levando em conta sua vida é completamente compreensível...
Bejão
Allan

3:20 PM, janeiro 13, 2005  
Blogger Madame P. Mandrack said...

Poxa Xuxu, lá em casa eu nunca conseguia ver este seu comentário, mas aqui na casa do meu tio eu vi.
Quem não me conhece pode até pensar que meus textos não têm, necessariamente, algo comigo, mas de você não posso e nem conseguiria esconder nada.
Essa necessidade de liberdade é antiga e anterior à minha situação, somente foi aumentada.
Gostaria de ver você masi aqui na fábrica.
beijos

11:44 AM, março 14, 2005  

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